Confesso que
fiquei muito estressada. E na verdade não está ajudando em nada. Pensar
positivo, que vergonha, não tem me ajudado muito, também, não. Então resolvi
pensar em algo que poderia me acalmar. Algo de concreto.
E então pensei
que na mesma situação em que estou, diversas outras mães estão. E com a mesma
incapacidade de reconhecer as suas excelentes qualidades. Duvidam, assim como
eu, das suas qualidades de mãe, de profissional de esposa de dona de casa. Em
relação às três últimas permanecerei inerte. O que quero, a partir de agora, é
ressaltar qualidades maternas que minhas amigas e mães não conseguem ver. Eu
vejo diuturnamente nelas. Mas elas não conseguem enxergar. Assim, como eu. Não
adianta eu listar minhas qualidades e meditar. Está além da minha capacidade.
Mas quando a observação vem de fora, vamos ver se funciona.
A partir de
agora, inauguro a corrente materna de qualidades (e olha que detesto correntes,
pago minha língua aqui). Acho que consigo. Sempre fui muito observadora.
Vou escrever sobre
uma mãe que conheço. Claro conheço várias, umas mais outras menos. Algumas
conheço da maneira que a pandemia nos impôs... Via grupo de WhatsApp.
Mas vai dar
certo.
Essa mãe escolhida,
é uma com quem já convivo há mais tempo. Mãe de um colega do meu filho mais
velho, com quem me relaciono há mais de sete anos.
Quando a conheci
ela só tinha tido, o melhor amigo do meu filho. E eu sabia da sua existência
através do menino.
Trabalhava muito
e não ficava, até tarde na porta da escola, conversando com as outras mães,
enquanto as crianças brincavam e o porteiro dizia que já eram 19 horas e que
tínhamos que ir embora. Também não ia comer a pizza na pizzaria perto da
escola.
Não se
manifestava muito nos grupos.
Para falar a
verdade, se me falassem naquela época, que eu estaria conversando e compartilhando
minha vida com ela, hoje, eu não acreditaria.
Não porque era
antipática. Mas porque não imaginava mesmo.
Pois bem, essa
mãe passou muita coisa e, hoje, tem três filhos. Três lindos meninos.
E é uma mãe que
não desiste nunca.
Precisei de um
pediatra ortopédico e, ela me indicou um.
Fui à consulta.
Excelente profissional. Meu filho foi logo perguntando aos Doutor se ele
conhecia o melhor amigo. O médico disse que como ele tinha muito paciente com o
mesmo nome, seria difícil ele saber quem.
Nessa hora citei
o nome da mãe e ele lembrou imediatamente. Seus olhos claros olharam para cima
e ele parou e disse para meu filho:
_ Sei bem quem é
o seu amigo. Comecei a tratar dele quando era um ratinho e, hoje, ele está um
ratão. Não é mesmo? Está enorme.
Se virou para
mim e disse: Das mães que atendo aqui, essa mãe é a que eu considero a mais
especial. Eu a admiro demais. Quando entrou no consultório com o filho, ela me
pediu um tanto de coisa. Eu disse que o caminho seria longo e exigiria muito.
Ela teria que ser firme e seguir minhas orientações à risca, para termos um bom
resultado. E o que ela queria não era pouco. Quase 10 anos depois, vejo meu
paciente e o milagre que ela tem realizado a cada consulta. E mais, sei que ela
conseguirá muito mais. Porque ela é persistente e acredita.
Naquela hora eu
pensei: gente o médico vê isso. Ele fala isso e, minha amiga, não raras vezes,
se questiona sobre sua aptidão. Ela é fantástica!!!
Acorda cedo,
cuida do bebê, ajuda o mais velho nas atividades, e trata o filho do meio,
realizando o mesmo milagre.
Vi recentemente
o filho do meio e, posso dizer, sem dúvida alguma que, se o primogênito é um
milagre, ela já pode ser canonizada, porque o filho do meio está se tornando um
imenso milagre.
Apesar de
engenheira, de entender de números, probabilidades e estatísticas, em questão
de filho ela muda toda a logística matemática, se recusando a aceitar as
teorias e, fazendo, sempre, dos filhos, o ponto fora da curva. Aquela exceção
boa. Aquele milagre lindo. Aquele milagre que desafia as leis naturais e, nos
faz acreditar em algo superior. Que nos faz acreditar que no final do arco íris
tem um pote, com mais ouro do que as lendas nos prometem, porque se trata do
ouro da vida.
Esse segundo
filho foi diagnosticado com autismo. Não falava e não fazia contato visual. Se
ela ficou baqueada com o diagnóstico? Ficou sim. Deixou as crianças em casa com
o marido. Chorou. Comeu doce. Respirou. Tornou a chorar e, no dia seguinte,
aquela supermãe já estava tomando providências para tratar o filho. E disse a
mesma coisa que mamãe me falou uma vez: “Ele não precisa de choro, precisa de
orientação e tratamento, então... vamo que vamo...” (a parte do “vamo que vamo”
é dessa mãe fofa - minha mãe não falava isso)
Hoje ele fala,
brinca, ama dinossauros e fez uma amiga minha de exatas ficar boquiaberta com a
evolução dele. Contra a maré, mãe e filho demonstram ser possível um novo
milagre. Se um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Com certeza!!! Dois milagres
na mesma casa, realizados pela mesma mãe! Incrível né?
Mostram além,
que em se tratando de milagres, não há cota por família. Não há cotas por
crianças. Precisam apenas de uma mãe que não desista para se concretizarem.
Cansativo? Não
consigo sequer imaginar o quanto. Ela, ainda, faz programação da semana. Todo
domingo planeja horários, e anda de bicicleta com o mais velho.
Sim, apesar dos
pesares, o mais velho queria andar sem rodinhas na bicicleta. Missão
impossível? Não para ela. Está sem rodinhas! E todo domingo andam em torno de
uma lagoa.
Como ela
consegue? Não sei. E, ainda, tem tempo de ouvir meus lamentos, embora eu sempre
diga que morro de vergonha de reclamar com ela (podem me massacrar nessa altura
do texto, faço o mea culpa). Mas a amizade que nos une permite isso.
Ela sempre me
fala: Tem horas que não dá para pensar: Então, não pense, continue a nadar
(como a Dory do Filme “Procurando Nemo”).
Ela é uma mãe
tão encantadora. Uma amiga tão linda.
Por isso a
escolhi para iniciar essa nova fase.
Porque apesar da Pandemia, apesar de nos
sentirmos mal, apesar dos pesares, pelos olhos dos outros... sem a nossos olhos
para nos criticar... sempre existirá uma mãe especial e maravilhosa.
Se o ortopedista
pode ver, se eu posso ver, se as leis da natureza cedem diante de tal mãe.
O que é a Pandemia para tentar mostrar o
contrário.
E para ela eu
escolho uma música! Poque adoro músicas! Maestro Zezinho, uma nota! ( É preciso
saber viver- Titãs):
“Toda
pedra no caminho
Você
pode retirar
Numa
flor que tem espinhos
Você
pode se arranhar
Se
o bem e mal existem
Você
pode escolher
É
preciso saber viver”