terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

MATERNIDADE ESPECIAL

 

Confesso que fiquei muito estressada. E na verdade não está ajudando em nada. Pensar positivo, que vergonha, não tem me ajudado muito, também, não. Então resolvi pensar em algo que poderia me acalmar. Algo de concreto.

E então pensei que na mesma situação em que estou, diversas outras mães estão. E com a mesma incapacidade de reconhecer as suas excelentes qualidades. Duvidam, assim como eu, das suas qualidades de mãe, de profissional de esposa de dona de casa. Em relação às três últimas permanecerei inerte. O que quero, a partir de agora, é ressaltar qualidades maternas que minhas amigas e mães não conseguem ver. Eu vejo diuturnamente nelas. Mas elas não conseguem enxergar. Assim, como eu. Não adianta eu listar minhas qualidades e meditar. Está além da minha capacidade. Mas quando a observação vem de fora, vamos ver se funciona.

A partir de agora, inauguro a corrente materna de qualidades (e olha que detesto correntes, pago minha língua aqui). Acho que consigo. Sempre fui muito observadora.

Vou escrever sobre uma mãe que conheço. Claro conheço várias, umas mais outras menos. Algumas conheço da maneira que a pandemia nos impôs... Via grupo de WhatsApp.

Mas vai dar certo.

Essa mãe escolhida, é uma com quem já convivo há mais tempo. Mãe de um colega do meu filho mais velho, com quem me relaciono há mais de sete anos.

Quando a conheci ela só tinha tido, o melhor amigo do meu filho. E eu sabia da sua existência através do menino.

Trabalhava muito e não ficava, até tarde na porta da escola, conversando com as outras mães, enquanto as crianças brincavam e o porteiro dizia que já eram 19 horas e que tínhamos que ir embora. Também não ia comer a pizza na pizzaria perto da escola.

Não se manifestava muito nos grupos.

Para falar a verdade, se me falassem naquela época, que eu estaria conversando e compartilhando minha vida com ela, hoje, eu não acreditaria.

Não porque era antipática. Mas porque não imaginava mesmo.

Pois bem, essa mãe passou muita coisa e, hoje, tem três filhos. Três lindos meninos.

E é uma mãe que não desiste nunca.

Precisei de um pediatra ortopédico e, ela me indicou um.

Fui à consulta. Excelente profissional. Meu filho foi logo perguntando aos Doutor se ele conhecia o melhor amigo. O médico disse que como ele tinha muito paciente com o mesmo nome, seria difícil ele saber quem.

Nessa hora citei o nome da mãe e ele lembrou imediatamente. Seus olhos claros olharam para cima e ele parou e disse para meu filho:

_ Sei bem quem é o seu amigo. Comecei a tratar dele quando era um ratinho e, hoje, ele está um ratão. Não é mesmo? Está enorme.

Se virou para mim e disse: Das mães que atendo aqui, essa mãe é a que eu considero a mais especial. Eu a admiro demais. Quando entrou no consultório com o filho, ela me pediu um tanto de coisa. Eu disse que o caminho seria longo e exigiria muito. Ela teria que ser firme e seguir minhas orientações à risca, para termos um bom resultado. E o que ela queria não era pouco. Quase 10 anos depois, vejo meu paciente e o milagre que ela tem realizado a cada consulta. E mais, sei que ela conseguirá muito mais. Porque ela é persistente e acredita.

Naquela hora eu pensei: gente o médico vê isso. Ele fala isso e, minha amiga, não raras vezes, se questiona sobre sua aptidão. Ela é fantástica!!!

Acorda cedo, cuida do bebê, ajuda o mais velho nas atividades, e trata o filho do meio, realizando o mesmo milagre.

Vi recentemente o filho do meio e, posso dizer, sem dúvida alguma que, se o primogênito é um milagre, ela já pode ser canonizada, porque o filho do meio está se tornando um imenso milagre.

Apesar de engenheira, de entender de números, probabilidades e estatísticas, em questão de filho ela muda toda a logística matemática, se recusando a aceitar as teorias e, fazendo, sempre, dos filhos, o ponto fora da curva. Aquela exceção boa. Aquele milagre lindo. Aquele milagre que desafia as leis naturais e, nos faz acreditar em algo superior. Que nos faz acreditar que no final do arco íris tem um pote, com mais ouro do que as lendas nos prometem, porque se trata do ouro da vida.

Esse segundo filho foi diagnosticado com autismo. Não falava e não fazia contato visual. Se ela ficou baqueada com o diagnóstico? Ficou sim. Deixou as crianças em casa com o marido. Chorou. Comeu doce. Respirou. Tornou a chorar e, no dia seguinte, aquela supermãe já estava tomando providências para tratar o filho. E disse a mesma coisa que mamãe me falou uma vez: “Ele não precisa de choro, precisa de orientação e tratamento, então... vamo que vamo...” (a parte do “vamo que vamo” é dessa mãe fofa - minha mãe não falava isso)

Hoje ele fala, brinca, ama dinossauros e fez uma amiga minha de exatas ficar boquiaberta com a evolução dele. Contra a maré, mãe e filho demonstram ser possível um novo milagre. Se um raio cai duas vezes no mesmo lugar? Com certeza!!! Dois milagres na mesma casa, realizados pela mesma mãe! Incrível né?

Mostram além, que em se tratando de milagres, não há cota por família. Não há cotas por crianças. Precisam apenas de uma mãe que não desista para se concretizarem.

Cansativo? Não consigo sequer imaginar o quanto. Ela, ainda, faz programação da semana. Todo domingo planeja horários, e anda de bicicleta com o mais velho.

Sim, apesar dos pesares, o mais velho queria andar sem rodinhas na bicicleta. Missão impossível? Não para ela. Está sem rodinhas! E todo domingo andam em torno de uma lagoa.

Como ela consegue? Não sei. E, ainda, tem tempo de ouvir meus lamentos, embora eu sempre diga que morro de vergonha de reclamar com ela (podem me massacrar nessa altura do texto, faço o mea culpa). Mas a amizade que nos une permite isso.

Ela sempre me fala: Tem horas que não dá para pensar: Então, não pense, continue a nadar (como a Dory do Filme “Procurando Nemo”).

Ela é uma mãe tão encantadora. Uma amiga tão linda.

Por isso a escolhi para iniciar essa nova fase.

 Porque apesar da Pandemia, apesar de nos sentirmos mal, apesar dos pesares, pelos olhos dos outros... sem a nossos olhos para nos criticar... sempre existirá uma mãe especial e maravilhosa.

Se o ortopedista pode ver, se eu posso ver, se as leis da natureza cedem diante de tal mãe.

 O que é a Pandemia para tentar mostrar o contrário.

E para ela eu escolho uma música! Poque adoro músicas! Maestro Zezinho, uma nota! ( É preciso saber viver- Titãs):

“Toda pedra no caminho

Você pode retirar

Numa flor que tem espinhos

Você pode se arranhar

Se o bem e mal existem

Você pode escolher

É preciso saber viver”


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