UM FUSCA... EU... MEU
NAMORIDO E... UM PAI, TUDO E JUNTO E MISTURADO
Bom, para todos
saberem que, efetivamente, num relacionamento, nem tudo são flores.
Início de
namoro, e eu super empolgada com o namorado.
Como sou do
interior, depois de um tempo, ele resolveu que era bom eu apresentá-lo ao meu
pai.
Gente!!! Meu pai
é custoso demais. Mas o rapaz, quis conhecê-lo. E.. Lá fomos nós.
Na época com um lindo
fusca azula calcinha.
E ele na
empolgação.
Até uma cachaça
levou. Isso, porque não sabia, na época, como meu pai se comportava com uma
cachaça. E, embora, eu tenha avisado que papai tinha tonel de pinga, ele quis
agradar.
Então era
isso... um fusca, uma garrafa de pinga e um pai a 400 km de distância esperando
a filha com o “namorido”.
Meio do caminho
e o fusca pára. E “namorido” sai do carro, avalia e levanta um tanto de
hipótese: Gasolina acabou, água do radiador (sim na época tínhamos que colocar
água no radiador...) bateria precisando de chupeta. Pára carro para ajudar e
nada. O fusca parado e um sol de “rachar coco” na cabeça da gente. E ainda, uns
313 km pela frente...
Tentei opinar e
ele disse que depois falava comigo. Então, quase 2 horas depois, surtei e fiz o
encaixe da mangueira solta na traseira do fusca e ele ressuscitou. Pronto! Pudemos
seguir a viagem.
Nessa época, meu
pai era bem mais tranquilo. Meu “namorido” agradou. Tudo era novidade. Enfim, a
roça, não era tão difícil assim.
Então para quem
acha que não é possível amor à primeira vista... eu sou a prova! E lá se vão 19
anos... e essa primeira vista, às vezes... precisa de uns óculos.
Bom, tudo isso
foi para contextualizar o quanto, sempre que vou para roça, é difícil.
Parece que o
fusca foi o sinal dos tempos.
Desta vez não
foi diferente.
Meu marido,
atualmente, adora a roça. Gosta mesmo muito. Eu já fico com uma preguiça, porque
quando vou para lá tem “n” coisas para serem resolvidas e papai se antes
bebia... hoje, bebe muito mais e... obviamente, está idoso.
Mamãe separou dele, e para ajudá-lo contatou
um senhor que o acompanha nas tarefas domésticas e da roça.
O nome do auxiliar?
Vagarento (que acho que fica mais lento, quando lá estou, mas é só uma
impressão)...
Então, quando
vou para lá, a situação é a seguinte: primeiro o nome Vagarento é dito umas 50
vezes, depois gritado 25, depois praguejado 10 e finalmente escuto meu nome. E
lá vou eu resolver. E não adianta eu tentar “atalhar”. A regra proporcional é
essa mencionada acima.
Já coloquei
algodão no ouvido. Pus travesseiro. Porque todo esse processo leva cerca de 3
minutos. Basta colocar o timer do celular e esperar despertar e ir atender
papai, de forma que, reputo dispensável a oitiva da gritaria...
Mas, enfim, um
dia todos nós seremos velhos e temos que aceitar o TOC que vem com a velhice.
Meu marido
defende papai e fala que tenho que ter paciência com ele e Vagarento... Agora
me perguntem se ele atende algum dos pedidos de papai? A resposta: não...
Assim, roça
significa, para mim, cansar em triplo, porque atendo meus filhos, marido que
quer receber amigos, papai e Vagarento.
Desta vez,
ainda, foi mais difícil. Minha mãe não podia ajudar, a casa que moramos estava
reformando e ficamos numa anexa de 2 quartos pequenos, sala com cozinha e um
banheiro. Conclusão... não tinha a menor condição de usar o banheiro. Eu dormia
na sala com meus filhos. Meu marido ia resolver problemas da obra e, algumas
vezes acabava por dormir lá.
Vagarento usava
seu quarto e papai o outro, e meu marido me dizendo porque eu não dormia com as
crianças no quarto de papai.
Tenho uma lista
enorme para justificar isso:
1-
Papai tem um penico do lado da cama para
escarrar (não quero ser cuspida e nem que um escarro atinja os meninos);
2-
Papai não usa banheiro à noite. Faz suas
necessidades líquidas numa garrafa pet. Sempre enche duas no decorrer da noite
e, não raras vezes, a garrafa tomba e só podemos limpar de dia... porque ele
não quer ser importunado durante o repouso noturno (sim, ele usa essa expressão
da Constituição de 1988);
3-
Papai ronca feito uma britadeira, nem tampão de
ouvido, destes de avião, contém o barulho;
4- E em relação a necessidades sólidas só tenho a
dizer que ele habituou a ir ao banheiro de manhã, e só tenho a gradecer a Deus
por isso.
Detalhe, falando
assim, parece que papai é esclerosado, mas não, isso tudo ele faz no inverno,
porque segundo ele, vento constipa.
E não importa
que o banheiro seja dentro de casa e, só para ele e Vagarento.
Ele diz que a
corrente de ar entra pelas gretas e pelos poros do vidro (sim, vidro tem poros
para papai, pois é feito de areia derretida de maneira que por mais que se
derreta nunca gruda tudo. Daí o vento passa pelos poros e no inverno, é pior,
porque o vento é frio - essa é a teoria
dele, que às vezes até faz um certo sentido para mim. Mas só às vezes mesmo).
Bom, de manhã,
depois de tudo isso, acordo e sempre vejo se há xixi no chão.
Ele é o primeiro
a entrar no banheiro, para se ajeitar. Depois, Vagarento.
E eu não uso, e
não deixo as crianças usarem. Uso o tanque para escovar dente e a fossa de fora
para xixi. Banho nessas horas só na casa da mamãe.
Eu sempre tolero
as reclamações, mas desta vez não deu. Estava doente e cansada. Não dormia
fazia uma semana... Final de semestre é muito difícil...
-O negócio é o
seguinte. Primeiro: Papai acorda e vai ao banheiro. Faz número dois e depois a
tragédia começa. Sabe o xixi que ele coloca na garrafa? Pois então, esse xixi
não é jogado na privada. É jogado na pia porque segundo papai é ácido e limpa
germes e bactérias. Segundo: sabe a escova de dentes que a gente deixa no copo
ao lado da pia? Então, ele aproveita e depois de jogar o xixi escova a pia com
elas. E deixo uma coisa clara: ele não usa a dele. Usa as nossas! Atualmente,
apenas a sua. Porque é a única dando bobeira lá!
Desta vez, vi o
queixo do meu marido cair... E confesso que achei até que ele iria desmaiar.
Pendulou para um lado. Para o outro. Fez ânsia de vômito e com os olhos
arregalados só falou uma frase:
- Me diga pelo
amor de Deus se seu pai só passa a escova na pia de xixi!!!
Pior que não sei
a resposta, e fiquei muda.
De novo ele:
-Por favor...
serei objetivo. Ele escova a privada com a minha escova?
Eu: Não sei...
mas não deve, porque se tivesse escovado você saberia. Papai evacua e o cheiro
é insuportável! Você saberia só de aproximar a escova da boca.
-
Misericórdia!!! Acontece que tem sempre uma água sanitária no banheiro!!! E
minha escova sempre cheira água sanitária!!!
Eu: Então você
já pode ter sua resposta... ele só usa água sanitária em casos extremos. Tudo
ele limpa com o xixi ácido. Água sanitária só quando precisa de mais acidez...
Gente... pensei
que ia rolar um divórcio ali. Ou até um homicídio. Ou eu ficaria viúva! O homem
ficou vermelho, roxo, azul. E eu não tinha o que falar. Já tinha avisado “trocentas”
vezes. E ele dando uma de superior, nunca me deixava terminar de falar. Sempre
dizendo que ele aguentava coisas do sogro, que eu filha não podia. Que eu era
uma desnaturada, blá, blá, blá.
Só que, agora,
depois das informações, integralmente, prestadas ele chocou.
Virou para mim,
respirou fundo e disse: Muito bem, o que está feito, está feito. O que não tem
remédio, remediado está. Vamos voltar agora para casa. Liga para o Clínico
Geral e para o dentista. Quero fazer um check up total.
Eu: Mas hoje é
domingo. E com sinceridade não tem essa urgência toda. O máximo que você pode
ter adquirido é verme.
Com a cara de
nojo, ele olhou e me disse:
-Aquelas
lombrigas brancas podem estar agora dentro de mim? Vamos embora... AGORA, e
antes vou passar na farmácia. Liga para a pediatra urgente e pede um vermífugo
para mim. Um bem forte. Pediatra sabe disso melhor que clínico. Menino vive com
essas coisas. Liga rápido que dá tempo de matar essas coisas até a gente chegar
em casa.
Bom fiz tudo que
ele pediu.
No meio da
estrada ele parou o carro e vomitou umas três vezes.
O silêncio
perdurou o resto do domingo...
Na segunda, ele
cancelou os compromissos e foi fazer o check up total.
Na terça ele
disse: Vamos conversar?
Gelei!!!!
E só podia
falar: Claro... (mas sinceramente se ouvisse a palavra divórcio ia simular um
ataque cardíaco ou um desmaio).
-Desculpe por
sempre arremedar as suas frases. Nunca deixo você terminar e concluir o que
quer dizer. Confesso que depois, desse episódio vou te ouvir mais...
Então... nada de
óculos, por enquanto, para esse amor à primeira vista!!!