Para esta semana
vem na coluna CAUSOS E ACAUSOS: COCÔ, FORA DAS ESTATÍSTICAS.
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Bom, night, sem compromisso. Fim de namoro
recente, e a última coisa que queria era compromisso.
Música rolando
na pista. Bebida muito boa, e depois de tantos anos de namoro, uma formatura em
curso superior e um emprego descente: o mais importante!!! Dinheiro para
comprar TODAS as bebidas que quisesse consumir.
Comecei com
caipivodca (de Absolut, porque eu merecia). Nada de caipirinha com pinga
(apesar do pleonasmo, é só para ficar claro que minha época de pinga e vinho
sangue de boi tinha ficado para trás) e, também, nada de vodca nacional.
Depois passei a
acompanhar minhas amigas na tequila e quando já estávamos calibradas, passamos
para os mojitos.
Não que fossemos
alcoólatras, apenas ecléticas no gosto para bebidas.
Então, no meio
desta degustação etílica, intercalamos muita água e tira gostos para compensar
o álcool.
Não me importei
porque estava magra mesmo e, enfim, esbaldar por uma noite, não tem problema, a
manhã seguinte serve para correr e para jejum com permissão de apenas salada no
almoço.
Pois bem, eis
que me aparece um gato. Cara bonito, ajeitado mesmo. Corpo bacana e
principalmente, idade adequada: mais de 35 anos pelo menos.
Olhei, porque
não tira pedaço e, porque estava tonta mesmo. E, por fim, não esperava nada da
noite.
Não tenho o
hábito de ficar de cara com alguém. Nem lembro a última vez que isso aconteceu.
Mas enfim, lá
estava eu, e lá estava ele.
Minha colega
avisa: “Se der super química, coisa de não aguentar, fica com ele. Se entrega e
se esbalda. Não tem porque ficar segurando sua vontade, você não namora mais.
Mas não faça por obrigação. Se rolar rolou”.
Gente eu só
tinha olhado e ela já vem com essa conversa? Faço ideia do espichão de olho que lancei no homem.
Logo depois já estava
ele do meu lado.
Não lembro o que
falou. Foquei só na química. E gente!!! Que química. A voz, o hálito, o corpo,
e claro o efeito do álcool... fizeram a combinação perfeita.
Quando dei por
mim, já estava beijando o cara.
Mais um pouco,
estava indo embora do local.
Mais um pouco,
estava dando uns amassos no carro.
Mais um pouco,
estava com a mão nele e ele em mim.
Mais um pouco,
estava na porta do motel.
Um pouco mais,
estava dentro do quarto do motel, entrando e batendo as costas na parede, com
uma pegada firme, que só quem já foi pega sabe explicar.
Daí, de repente,
não mais que de repente, e vou dizer, quase não acreditei!!! Fiquei com uma vontade
incontrolável de fazer cocô. Estava insuportável e não dava para segurar. Se não
me desvencilhasse, iria literalmente, com o perdão da palavra (que a ocasião
constrangedora permite usar) “cagar” em cima dele.
Então, o beijei
e disse: “Calma, vou me recompor para você... me aguarde e terá o melhor de
mim.” (Sei que foi brega, mas a situação não permitia outra coisa, e se ele
achasse que estava fazendo doce, para mim tanto fazia. Assim, que me liberasse
do cocô, mostraria a que tinha vindo).
Então fui ao
banheiro. Gente, não era Motel vagabundo, nem barato. O mínimo que se espera de
um Motel, bom, é que tenha um sistema de esgoto descente.
Sentei na
privada e me liberei. Para dizer a verdade, me libertei de uns dois quilos de
cocô.
Fiquei até com a
barriga chapada.
Trabalho feito,
hora de dar a descarga e... a porcaria não tem potência para descer o bolo
fecal!!!
O desespero toma
conta de mim.
Forço a privada
e ela dá sinal que que vai entupir e vazar água com cocô. Estava quase
enfartando. Só faltava uma torrente de cocô inundando o banheiro e o quarto,
ilhando o gato na cama do Motel.
Bom suspendo a
descarga, pego a touca de plástico do motel e retiro o cocô da privada. Ligo
antes o chuveiro, para despistar e justificar minha demora. Nenhum lugar para
jogar o cocô. Não tinham colocado lixeira na porcaria do banheiro!!! Nem
acreditei!!!!
Quem seria o
coordenador dos serviços de limpeza do Motel?!?!?! ISO ZERO!!!!
Daí me restou o
basculante da janela. Sem pensar em nada, nem no meio ambiente jogo o cocô pela
janela.
Livre da prova
do crime, tomo um banho redutor de stress, e jogo o shampoo para fazer um
cheiro bom no banheiro.
Nisso o efeito
do álcool já havia sido drasticamente diminuído e pensei: O que será que me
aguarda lá fora? Talvez não seja tão bonito, mas só pensei na química. Se tinha
rolado química meu corpo não iria me trair.
Abro a porta,
menos tensa, mas não isenta dela, e vejo que o cara é realmente gato. Bonito e
corpo legal.
Coisa ótima
ficar com ele ali. Super química e muito sexo. E, surpreendentemente, para sexo
com um estranho foi muuuuito bom.
Conversamos e
ele também era legal. Falou sobre trabalho, coisas do dia a dia e eu também. Eu
nem quis comer por conta do fatídico acontecimento, que, inocentemente, achava
eu tinha encoberto sem deixar rastros.
Banheiro
tranquilo, tomamos banho e... hora de partir. Conta paga. Descemos a escada e
quando menos espero....
Lá estava ele, o
cocô de dois quilos!!! Em cima do capô do carro do gato!!!
O cara olhou e
ficou indignado. Como assim?!?! Falava ele comigo. Jogaram bosta no meu carro?
É isso que estou vendo?!?! Não é possível!!! Da onde veio essa merda toda?!?
Desculpa o palavreado, mas isso não está legal não. Vou ligar agora na gerência
para reclamar e ver de onde veio tanta bosta. É um absurdo!!!
Para a minha
sorte o cara não olhou para cima em direção ao basculante do nosso quarto, um
pedaço do coco lá estava para deixar a trilha...
Olhei para ele
chocada e disse: “Olha só. Já está tarde, não gostaria de escândalos aqui. Até
ser apurado de onde veio esse cocô, já vai ser umas 9:00 h da manhã. E,
sinceramente, não posso chegar nove da manhã em casa. Na verdade, agora 4:00 h
já está tarde para mim. Nos conhecemos hoje. Já ficamos de cara. Gostaria que
você me poupasse de exposição. Mesmo porque, depois de tudo, vão te oferecer
uma ducha no lava jato. Pago para você e, ainda, te dou um plus, entres os esfregões do lava jato. Pode ser? Realmente,
gostaria de não ficar exposta.” (e nisso meu coração quase saindo pela boca.
Desespero total!!!).
Ele
carinhosamente me olha e diz:” Desculpa, acho que não fui educado. Realmente,
não é para tanto. Acho que me excedi e não queria te constranger e de forma
alguma quero você pagando a ducha do lava jato ...” (Excedeu? O carro com uns
dois quilos de bosta espalhados por cima e ele diz que excedeu? Cara super
educado ou acho que merecia o Oscar por minha atuação desesperada). Ele
completa: “Marcamos outro encontro e faremos algo bem mais interessante que
lavar o carro. Vamos embora e deixo você em casa. Depois resolvo isso.”
Na hora que
escutei casa me aliviei. Mas o resolvo depois, confesso, me deixou tensa. Pensa
bem se ele volta ao motel e descobre que tudo aquilo saiu de mim e, que, não
satisfeita em defecar horrores, joguei tudo no carro dele.
Não há
explicação para o acontecimento, para os fatos, nem em cinema isso iria
acontecer.
Tanta variável
negativa em um só evento? A probabilidade disso acontecer é muito pequena. E lá
estava eu vivendo uma exceção.
Bom, pensei. Uma
noite só. Uma ficada. DANE-SE. Ele nem vai me procurar e caso venha cobrar a
limpeza do carro, pelo menos tenho dinheiro para pagar uma geral no carro dele.
Chego na porta
de casa e me despeço, rapidamente.
Ele: “Calma. Me
passa seu telefone.”
Tico e teco
pifando... Minto o telefone? Meu endereço ele sabe... Enfim, melhor resolver as
contas do cocô pelo telefone, do que na porta do meu prédio. Forneço, então meu
número.
No dia seguinte,
número desconhecido me liga. Atendo... o gato.
Conversamos, e
ele diz que quer me encontrar. Coração dispara novamente. Será que para tratar
dos dois quilos de cocô?
Enrolo e digo:
Mas você conseguiu resolver o problema de ontem?
Ele: “Na verdade
temos que analisar que ontem tivemos mais solução que problema, no contexto
geral. Mas sim, resolvi o problema e me desculpe, mais uma vez pela exaltação.
Não justificava uma cena daquela. Mandei lavar o carro e ele já está pronto.”
Eu: “Claro,
pronto, mas esperemos que não pronto para mais uma coisa daquela de ontem...”
Ele: “Depende de
qual parte. 90 por cento de ontem tenho certeza que ele está não só pronto, mas
ansioso por repetir.”
Final da
história: Por incrível que pareça namoramos e recentemente casamos. Se ele vai
saber que aquele cocô era meu... isso não sei... acho que, como diriam minhas
amigas advogadas: já prescreveu.
Como atuante na
área de exatas só posso dizer uma coisa: tantas variáveis desfavoráveis como as
daquele dia, estatisticamente falando, parece coisa surreal.
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