ADOLESCÊNCIA "TRANSVIADA", ATÍPICA OU SIMPLESMENTE NO SENSE
FOTOS DA WEB
Quando jovens, digo na adolescência, porque,
definitivamente, ainda sou muito jovem. Principalmente depois do advento do
Botox, do preenchimento com Ácido Hialurônico, do laser e, claro, da tinta de
cabelo, velhice é uma coisa que, realmente, ficou para as gerações passadas. Definitivamente,
não nos pertence.
Pois bem, éramos pouco convencionais.
Enquanto as demais meninas se enlouqueciam com as festas em Belo Horizonte, carnaval
na praia mais badalada, Semana Santa em Escarpas do Lago e Viagem a Disney aos
quinze anos... Eu e minhas amigas atípicas nos aprontávamos para as festas em
Vespasiano, cidade metropolitana contígua à Belo Horizonte.
Nossa alegria era pegar o ônibus em BH e
nos encaminharmos para o Carnaval em Vespasiano, Bailes de debutantes na mesma
Cidade, e a famosa “Farra da marmota”, sendo em que nesta última, a única
disposta a participar de tamanha loucura era a nossa amiga da cidade, que
nunca, justiça seja feita, se esquivou de dar a “cara a tapa”.
Para ser mais franca, suas atitudes até
hoje demonstram a sua coragem em, não só dar “a cara a tapa”, como a cara ao
espancamento. Ademais, sempre foi a literária da turma de forma que
dificilmente qualquer coisa que eu escreva agora, ficaria melhor do que em suas
narrativas.
Seguem abaixo alguns capítulos memoráveis
de nossa vida tenager:
CAPÍTULO UM: DEBUT DE AMIGA 1 EM VESPASIANO COM GUMEX
Nossa amiga mais despachada e, porque não
dizer, mais moderna e evoluída que a gente, resolveu debutar em Vespasiano.
Vestido longo e branco. Sapatos da mesma cor. E uma imensa passarela, em
que as debutantes podiam desfilar com o cerimonialista resumindo sua atuação na
vida da sociedade local enquanto, cheias de cara e bocas, as meninas sentiam-se
como se realmente suas proezas aos quinze anos pudessem, quem sabe acabar com a
miséria do mundo, ou alavancar a indústria no Brasil.
Afinal, aos quinze anos, claramente já
estamos preparadas para mudar a concepção de mundo que os adultos têm.
Pois bem, como nossa colega era a única com
evolução suficiente para cruzar a passarela da sociedade Vespasianense, o
evento era dela e de Gala.
Arrumamos os melhores vestidos. O meu um
lindo vestido com o corpo em renda cor de chá e uma saia de tafetá com um pano
armado em baixo para a saia ficar bem rodada, feito uma arapuca. Amiga 2 com um
vestido de tafetá rosa chá , com rendas, muitas rendas em tom levemente mais
escuros e, com o famoso tecido para transformar a saia em arapuca.
Pode soar engraçado nos tempos de hoje, mas
como a moda vai e vem, em breve todas estarão sonhando em consumir a saia
arapuca. Provavelmente, depois da Thássia colocar em seu blog as dúvida que
restarem sobre usar ou não a saia arapuca, ficarão, absolutamente, dirimidas.
Enfim, vestidos impecáveis e, claro, não
podíamos deixar de fazer um penteado. Para ele durar mais, escolhemos uma
cabelereira de Vespasiano. Eu ressabiada e, querendo fazer uma trança bem
bonita, das que tinham aparecido nas revistas de cortes e penteados, confesso
que “titubiei” em relação à competência capilar da cabeleira. Contudo,
estimulada por minha Amiga 2, que, como já disse, não tem medo de dar a cara a
tapa e, muito menos do ridículo, fui convencida de que a Sra. era capaz de
fazer uma trança rabo de peixe em mim.
Sentei na cadeira e o pote do gumex lá , à
espera da trança.
A senhora pega um pente, passa sem a menor
cerimônia no meu cabelo e começa a emplastá-lo com o gumex. Puxa a franja com
tanta força e o cabelo fica tão espichado para trás que imediatamente me transforma
numa oriental, com a diferença que não conseguia enxergar nada, pois as
lágrimas de dor me impediam e atrapalhavam minha visão que ficou turva. Meus
olhos ficaram tão puxados que era difícil manter o foco em qualquer coisa que
fosse.
Corajosa minha amiga 2 que, como já disse
não tem medo de exposição, mesmo com o resultado desastroso do meu penteado,
não se intimidou e, determinada, sentou-se na cadeira e disse: “ Quero um rabo
de princesa com uns cachos discretos nas pontas do cabelo.
E lá veio o pente e o pote de gumex e a
força do braço da Sra. puxando a cabeleira da minha amiga para trás. Não
satisfeita em, provavelmente, ter provocado um descolamento de retina em minha
amiga 2, ela continua a saga e pega um baby liss e começa a transformar, não só
as pontas, como toda a extensão do cabelo em um, no sentido literal e visual da
palavra, Bombril.
Ao se olhar no espelho amiga 2 indaga na sua humildade: “A Sra. não acha que a
franja está muito puxada para trás? Eu estou com dor de cabeça e estou vendo um
pouco embaçado. Será que não seria melhor soltar um pouco, quem sabe afofar,
para dar uma leveza?
Sem pestanejar a cabeleireira concorda com
minha amiga e pega umas mechas da franja e as solta do rabo de princesa. Mas...
o que nós não sabíamos era que o pior ainda estava por vir. Como amiga 2 estava
deixando o cabelo inteirar, quando a dita cuja soltou os fiapos da franja na
cara dela a franja veio parar no queixo, continuando a impedir a visão. Sem
hesitação a Sra. pegou a tesoura e, sem que desse tempo de qualquer reação,
cortou a franja que há meses esperava para alcançar o comprimento do cabelo.
Desalentadas e sem que houvesse solução
para o problema, pelo menos naquele lugar, agradecemos e nos dirigimos à casa
de amiga 2, onde nosso vestidos glamourosos nos esperavam, engomados e bem
passados. Não consegui conter minha tristeza e amiga 2 não aguentava sua dor de
cabeça que, a medida que caminhávamos, aumentava.
Perguntei: “Amiga 2, você acha que isto tá
bom?”. Ela responde: “Let não sei, minha dor de cabeça me impede de realizar
qualquer juízo de valor sobre o penteado.”
Penso mais um pouco e digo: “Vamos
perguntar a seu irmão! Ele é novo e sincero, não vai conseguir mentir para a
gente.”
Chegamos e imediatamente pergunto ao
pequeno irmão como nós estávamos. Se estávamos bonitas para ir ao Baile. Ele, estarrecido,
olha para a gente e não consegue dizer nada, só um “hãn...” e imediatamente
desaparece do local para não ter que dar mais satisfação.
A resposta está dada. Não podíamos sair de
casa naquele estado. Entro no banho, lavo a cabeça e seco no secador. Amiga 2
faz o mesmo. Vestimos nossos vestidos glamourosos, o cabelo sem nada. E
sinceramente só tínhamos esta opção, sob pena de sermos execradas do baile com
a justificativa de extremo mau gosto que, poderia sem sombra de dúvidas, afetar
o estado de espírito dos demais convidados.
Acredito que, se não fosse nossa coragem em
jogar ralo abaixo todo o gumex usado na nossa cabeça, bem como ,o pagamento do
fatídico “penteado” provavelmente estaríamos cegas... teríamos um registro
eterno em fotos do quão medonhas estávamos.
Enfim, viva o chuveiro e o shampoo que
lavou o gumex!
CAPÍTULO DOIS: BETH GUZZO
Ainda, a famosa década de noventa... Eu
doida para pintar o cabelo de vermelho, mas sem autorização de mamãe. Tentando
achar uma solução alternativa tive a ideia “giricosa” de usar papel crepom
vermelho para tingi-los de vermelho. Nisso, amiga 3, corajosa, decide pintar suas
madeixas loiras... de preto.
Assim, sob protestos de mãe de amiga 2, fomos
para o terreiro da casa de Vespaziano e dá-lhe papel crepom. Muito tempo depois
cabelos secos, eu ruiva, amiga 3 morena, fomos nos arrumar.
Amiga 3, totalmente e completamente,
empolgada por estar morena e, com um macaquinho novinho feito para a ocasião
com uma estampa meio pantanal (muitas folhagens verdes e umas flores selvagens
vermelhas) taca um batom vermelho e lá vamos todas nós. Todas, e duas
transformadas em aberrações: “jogue suas tranças, a cabeleira vermelha” e “
preto ébano- a nova Branca de neve”.
Na empolgação do baile no Funil, e com a
ajuda da falta de ar condicionado e da “muvuca” que o local sempre ficava em
época de carnaval, começamos a dançar.
Detalhe, dançávamos de maneira muito
peculiar e porque não dizer... feito loucas.
Essa era nossa tática para afastar
pretensos interessados e não perder um segundo de dança elaborando
justificativas de porque não beijaríamos ninguém.
E lá iam as investidas de “Flácida couve
oleosa”, “Inchum” e uma série de outros pretendentes que, carinhosamente,
apelidávamos de acordo com alguma característica que nos chamavam atenção. Na
verdade quase todos os apelidos eram formulados por amiga 2, sempre muito
criativa.
No meio do Baile, o calor abafando geral eu
e amiga 3 começamos a suar e as respectivas tintas de crepom, vermelha e preta,
começaram a rolar pescoço abaixo e a manchar nossa roupa.
A solução de qualquer adolescente normal
seria retirar-se do Baile e ir lavar a lambança. Contudo, ficamos firmes e
forte até o final do baile. Com um adicional: como estávamos completamente
manchadas as pessoas olhavam e não se aproximavam.
Resultado, conseguimos abrir uma clareira
num Baile lotado e aproveitar um espaço VIP... digamos... ROUGE- BLACK.
Um refinamento que, já consagrado à época(Christian-Louboutin) - embora não conhecido por nós, nos idos de 1990 - já expandíamos sem saber, rsrs.