Certa vez, estava em audiência com um senhor...
Interior de Minas...
E um senhor, com uma mentalidade, um tanto quanto, digamos, corrompida.
Ele, já havia respondido a alguns processos, portanto, conhecia a dinâmica de uma audiência criminal e do processo criminal.
Muito agitado, falava comigo a toda hora: "E aí, menina? Que que dá de bom para fazer pra mim?"
O que, em caso de condenação, iria resultar para ele.
O que seria substituição de pena privativa de liberdade por restritiva de direito, e ele entendia tudo, mas queria que eu desse um "jeitinho" de dar alguma "coisa boa" para ele. E eu não rendia a dita "coisa boa", nem o dito "jeitinho". O que resultava em mais ansiedade pro parte dele.
Ele: "Não menina... conversa lá antes e vê que que de bom dá para fazer para mim. Cê entende né? Uma conversinha" E piscava o olho.
Eu: "O Sr. tem que entender que existem implicações, e que tais implicações estão, além de uma conversinha..."
Ele me interrompe, pega meu braço, me puxa para baixo e fala: "Menina de Deus!!! Uma conversinha, chega lá e oferece uma coisa. Para ficar bom para mim. Entende?"
Vixe Maria, pensei eu... oferecer algo? Como assim? Não é possível que estou entendendo errado. Não é possível que esse Sr. queira o que, realmente, estou entendendo que quer.
Constrangida com a situação e vendo que a prosa estava indo numa direção equivocada, respondi: "O Sr. tem que entender uma coisa. Não posso e não vou oferecer nada, porque senão o que estava ruim vai ficar pior... Entendeu? Não trabalho dessa maneira. Assim, se o Sr. estiver insatisfeito com a minha atuação, vamos falar em audiência que o Sr. pretende mudar de advogada. Pode ser?"
Ele: Então... (coçando a barba) o que você pode fazer para ficar bom?
Eu: "Bom... Para ser um bom, muito bom, o ideal é que o Sr. não tivesse feito nada, não é mesmo? Aí seria ótimo. Agora que foi feito, bom, bom não fica mais, e o Sr, sabe... Então... se o Sr, não insistir em atrapalhar, para o ruim não ficar pior, podemos tentar um "médio bom", ou "um médio médio". Pode ser?"
Ele, com uma piscadela disse: "Entendi... aqui não vale presente, agrado, nada não né? Eles não aceitam?"
Eu: "Sim, não aceitam, e não podem aceitar e o Sr, não pode oferecer. Nem aqui, nem em outro lugar, para outras autoridades, entendeu? Não Pode. É crime oferecer coisas para autoridade "melhorar" as coisas para a gente, Entendeu, mais uma vez? E eu , não trabalho desta forma."
Ele: "Menina... entendi sim. Você que não entende as maldades da vida. Mas como a mulher Juíza, lá de dentro, parece que pensa como você... isso de não aceitar agrados, vou ficar quieto."
Eu: "Sim, ela pensa como eu, certamente. E, caso, fosse diferente, como já disse para o Sr, EU, não trabalho desse jeito.".
Ele: "Procê vê minha filha. Antigamente, as coisas eram muito melhores, um porco, um boi, resolvia as "coisa". Depois, um lote, a "feitura" de um serviço especial, resolvia as "coisa". Agora... nada resolve as "coisa" aqui." Esse, povo novo, não respeita as "tradição" dos antigos... dos velhos."
Eu: "Olha bem, o Sr. tem que entender que não é questão de desrespeito de tradição. O errado não pode ser tradição, e..."
Ele, interrompe e diz: "Filhinha... já entendi, vamos logo acabar com isso."
E assim... acabamos com isso.
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