sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

ADOLESCÊNCIA "TRANSVIADA"

ADOLESCÊNCIA "TRANSVIADA", ATÍPICA OU SIMPLESMENTE NO SENSE
FOTOS DA WEB


Quando jovens, digo na adolescência, porque, definitivamente, ainda sou muito jovem. Principalmente depois do advento do Botox, do preenchimento com Ácido Hialurônico, do laser e, claro, da tinta de cabelo, velhice é uma coisa que, realmente, ficou para as gerações passadas. Definitivamente, não nos pertence.
Pois bem, éramos pouco convencionais. Enquanto as demais meninas se enlouqueciam com as festas em Belo Horizonte, carnaval na praia mais badalada, Semana Santa em Escarpas do Lago e Viagem a Disney aos quinze anos... Eu e minhas amigas atípicas nos aprontávamos para as festas em Vespasiano, cidade metropolitana contígua à Belo Horizonte.
Nossa alegria era pegar o ônibus em BH e nos encaminharmos para o Carnaval em Vespasiano, Bailes de debutantes na mesma Cidade, e a famosa “Farra da marmota”, sendo em que nesta última, a única disposta a participar de tamanha loucura era a nossa amiga da cidade, que nunca, justiça seja feita, se esquivou de dar a “cara a tapa”.
Para ser mais franca, suas atitudes até hoje demonstram a sua coragem em, não só dar “a cara a tapa”, como a cara ao espancamento. Ademais, sempre foi a literária da turma de forma que dificilmente qualquer coisa que eu escreva agora, ficaria melhor do que em suas narrativas.
Seguem abaixo alguns capítulos memoráveis de nossa vida tenager:

CAPÍTULO UM: DEBUT DE AMIGA 1 EM VESPASIANO COM GUMEX




Nossa amiga mais despachada e, porque não dizer, mais moderna e evoluída que a gente, resolveu debutar em Vespasiano. Vestido longo e branco. Sapatos da mesma cor.  E uma imensa passarela, em que as debutantes podiam desfilar com o cerimonialista resumindo sua atuação na vida da sociedade local enquanto, cheias de cara e bocas, as meninas sentiam-se como se realmente suas proezas aos quinze anos pudessem, quem sabe acabar com a miséria do mundo, ou alavancar a indústria no Brasil.
Afinal, aos quinze anos, claramente já estamos preparadas para mudar a concepção de mundo que os adultos têm.
Pois bem, como nossa colega era a única com evolução suficiente para cruzar a passarela da sociedade Vespasianense, o evento era dela e de Gala.
Arrumamos os melhores vestidos. O meu um lindo vestido com o corpo em renda cor de chá e uma saia de tafetá com um pano armado em baixo para a saia ficar bem rodada, feito uma arapuca. Amiga 2 com um vestido de tafetá rosa chá , com rendas, muitas rendas em tom levemente mais escuros e, com o famoso tecido para transformar a saia em arapuca.
Pode soar engraçado nos tempos de hoje, mas como a moda vai e vem, em breve todas estarão sonhando em consumir a saia arapuca. Provavelmente, depois da Thássia colocar em seu blog as dúvida que restarem sobre usar ou não a saia arapuca, ficarão, absolutamente, dirimidas.
Enfim, vestidos impecáveis e, claro, não podíamos deixar de fazer um penteado. Para ele durar mais, escolhemos uma cabelereira de Vespasiano. Eu ressabiada e, querendo fazer uma trança bem bonita, das que tinham aparecido nas revistas de cortes e penteados, confesso que “titubiei” em relação à competência capilar da cabeleira. Contudo, estimulada por minha Amiga 2, que, como já disse, não tem medo de dar a cara a tapa e, muito menos do ridículo, fui convencida de que a Sra. era capaz de fazer uma trança rabo de peixe em mim.
Sentei na cadeira e o pote do gumex lá , à espera da trança.
A senhora pega um pente, passa sem a menor cerimônia no meu cabelo e começa a emplastá-lo com o gumex. Puxa a franja com tanta força e o cabelo fica tão espichado para trás que imediatamente me transforma numa oriental, com a diferença que não conseguia enxergar nada, pois as lágrimas de dor me impediam e atrapalhavam minha visão que ficou turva. Meus olhos ficaram tão puxados que era difícil manter o foco em qualquer coisa que fosse.
Corajosa minha amiga 2 que, como já disse não tem medo de exposição, mesmo com o resultado desastroso do meu penteado, não se intimidou e, determinada, sentou-se na cadeira e disse: “ Quero um rabo de princesa com uns cachos discretos nas pontas do cabelo.
E lá veio o pente e o pote de gumex e a força do braço da Sra. puxando a cabeleira da minha amiga para trás. Não satisfeita em, provavelmente, ter provocado um descolamento de retina em minha amiga 2, ela continua a saga e pega um baby liss e começa a transformar, não só as pontas, como toda a extensão do cabelo em um, no sentido literal e visual da palavra, Bombril.
                Ao se olhar no espelho amiga 2 indaga na sua humildade: “A Sra. não acha que a franja está muito puxada para trás? Eu estou com dor de cabeça e estou vendo um pouco embaçado. Será que não seria melhor soltar um pouco, quem sabe afofar, para dar uma leveza?
Sem pestanejar a cabeleireira concorda com minha amiga e pega umas mechas da franja e as solta do rabo de princesa. Mas... o que nós não sabíamos era que o pior ainda estava por vir. Como amiga 2 estava deixando o cabelo inteirar, quando a dita cuja soltou os fiapos da franja na cara dela a franja veio parar no queixo, continuando a impedir a visão. Sem hesitação a Sra. pegou a tesoura e, sem que desse tempo de qualquer reação, cortou a franja que há meses esperava para alcançar o comprimento do cabelo.
Desalentadas e sem que houvesse solução para o problema, pelo menos naquele lugar, agradecemos e nos dirigimos à casa de amiga 2, onde nosso vestidos glamourosos nos esperavam, engomados e bem passados. Não consegui conter minha tristeza e amiga 2 não aguentava sua dor de cabeça que, a medida que caminhávamos, aumentava.
Perguntei: “Amiga 2, você acha que isto tá bom?”. Ela responde: “Let não sei, minha dor de cabeça me impede de realizar qualquer juízo de valor sobre o penteado.”
Penso mais um pouco e digo: “Vamos perguntar a seu irmão! Ele é novo e sincero, não vai conseguir mentir para a gente.”
 Chegamos e imediatamente pergunto ao pequeno irmão como nós estávamos. Se estávamos bonitas para ir ao Baile. Ele, estarrecido, olha para a gente e não consegue dizer nada, só um “hãn...” e imediatamente desaparece do local para não ter que dar mais satisfação.
A resposta está dada. Não podíamos sair de casa naquele estado. Entro no banho, lavo a cabeça e seco no secador. Amiga 2 faz o mesmo. Vestimos nossos vestidos glamourosos, o cabelo sem nada. E sinceramente só tínhamos esta opção, sob pena de sermos execradas do baile com a justificativa de extremo mau gosto que, poderia sem sombra de dúvidas, afetar o estado de espírito dos demais convidados.
Acredito que, se não fosse nossa coragem em jogar ralo abaixo todo o gumex usado na nossa cabeça, bem como ,o pagamento do fatídico “penteado” provavelmente estaríamos cegas... teríamos um registro eterno em fotos do quão medonhas estávamos.
Enfim, viva o chuveiro e o shampoo que lavou o gumex!


CAPÍTULO DOIS: BETH GUZZO



Ainda, a famosa década de noventa... Eu doida para pintar o cabelo de vermelho, mas sem autorização de mamãe. Tentando achar uma solução alternativa tive a ideia “giricosa” de usar papel crepom vermelho para tingi-los de vermelho. Nisso, amiga 3, corajosa, decide pintar suas madeixas loiras... de preto.
Assim, sob protestos de mãe de amiga 2, fomos para o terreiro da casa de Vespaziano e dá-lhe papel crepom. Muito tempo depois cabelos secos, eu ruiva, amiga 3 morena, fomos nos arrumar.
Amiga 3, totalmente e completamente, empolgada por estar morena e, com um macaquinho novinho feito para a ocasião com uma estampa meio pantanal (muitas folhagens verdes e umas flores selvagens vermelhas) taca um batom vermelho e lá vamos todas nós. Todas, e duas transformadas em aberrações: “jogue suas tranças, a cabeleira vermelha” e “ preto ébano- a nova Branca de neve”.
Na empolgação do baile no Funil, e com a ajuda da falta de ar condicionado e da “muvuca” que o local sempre ficava em época de carnaval, começamos a dançar.
Detalhe, dançávamos de maneira muito peculiar e porque não dizer... feito loucas.
Essa era nossa tática para afastar pretensos interessados e não perder um segundo de dança elaborando justificativas de porque não beijaríamos ninguém.
E lá iam as investidas de “Flácida couve oleosa”, “Inchum” e uma série de outros pretendentes que, carinhosamente, apelidávamos de acordo com alguma característica que nos chamavam atenção. Na verdade quase todos os apelidos eram formulados por amiga 2, sempre muito criativa.
No meio do Baile, o calor abafando geral eu e amiga 3 começamos a suar e as respectivas tintas de crepom, vermelha e preta, começaram a rolar pescoço abaixo e a manchar nossa roupa.
A solução de qualquer adolescente normal seria retirar-se do Baile e ir lavar a lambança. Contudo, ficamos firmes e forte até o final do baile. Com um adicional: como estávamos completamente manchadas as pessoas olhavam e não se aproximavam.
Resultado, conseguimos abrir uma clareira num Baile lotado e aproveitar um espaço VIP... digamos... ROUGE- BLACK.
 Um refinamento que, já consagrado à época(Christian-Louboutin) - embora não conhecido por nós, nos idos de 1990 - já expandíamos sem saber, rsrs.



                                                                                                                                  

Nenhum comentário:

Postar um comentário