MERGULHO NA DÉCADA DE 80
COM ROUPA NOVA
E o tempo passa... |
Mais um texto que fiz há algum tempo e compartilhei com minhas fieis escudeiras.
Prezadas amigas,
Esqueci-me de comentar que
recentemente fui a um show do Roupa Nova. Tudo de bom, mas tudo de bom mesmo!
Quando a banda entrou no
palco foi como se vinte anos desaparecessem e eu voltasse para a época da hora
dançante, sexta jovem no Iate Tênis Clube, para as músicas que
literalmente nos permitiam dançar, enfim...uma época que não volta mais. Fiquei
emocionada e com aquele aperto no coração.
Aí resolvi lembrar mais
profundamente a tão “saudosa” década de oitenta, início da noventa.
Nossas roupas balonê,
plush, para que tinham mais dinheiro o uso do New Wave, Gumex, ou, no meu caso, gelatina incolor sem sabor para amassar o cabelo e deixá-lo armado feito
arapuca por mais tempo.
Daí lembrei das horas
dançantes na casa de um colega, João, que morava na orla da Lagoa da Pampulha.
A casa era nova e o pai dele tinha feito uma boate com um globo e luzes
coloridas que giravam e espelhos que refletiam as luzes na parede. Coisa de
gente rica da época, com gosto da época.
Então a mãe dele colocava
uma tanto de cadeira contornando o salão (igual aos casamentos da época –
alguém consegue lembrar? Rsrs - Um tanto de cadeira, uma ao lado da outra, em
volta de todo o salão).
Cada um levava um prato de salgado e a mãe do
João fazia uma bacia de ponche de maçã com uns pedacinhos delas jogadas e
boiando na tina. Para servir uma concha de feijão e copos descartáveis.
E lá íamos para a festa.
(Detalhe na época eu era a mais alta da sala e tinha mais de vinte quilos do que minhas colegas).
Colégio de Freira... o que
significava uma hora dançante com quarenta meninas, o João e mais quatro
meninos.
E mais! As meninas ficavam
sentadas nas cadeiras, os meninos no centro do salão escolhendo com quem
dançariam, como se fossemos batatas de sacolão.
Uma a uma as meninas eram
chamadas para dançar e óbvio como ninguém trazia carrinho para a feira, a
melancia, aqui, ficava sentada, sem ser convidada para dançar a noite toda.
Minha amiga Maíra, que sempre insistia para que eu fosse a acompanhando, não
parava de ser convidada para dançar a noite toda, e eu sobrava feito jiló na
janta. Para ser mais sincera sobrava feito jaca de pomar.
Toda vez eu falava com a
Maíra que eu não iria, pois ficaria sozinha. Mas, na época, não usava menina ir
desacompanhada em uma festa e, como ela era filha única, se eu não fosse, ela
não podia ir. E quando eu já estava determinada a não ir ela usava o golpe
baixo: “Mas tem o ponche de maçã da mãe do João...” E lá ia eu fazer companhia
para a tina de ponche.
Durante muito tempo não me
importei, pois além de mim, ficava encalhada outra menina, que o pessoal apelidava de “macho man”. Então, o
bulling da época era a exclusão da menina “macho man” e da “Leiticia de leitão” (meu colega dislexo
disse que meu nome “Leiticia” tinha sido muito bem escolhido por minha mãe pois
derivava de Leitão, uma coisa que eu muito parecia).
Assim, eu e “macho man” ficávamos sentadas a festa
inteira. Só que não próximas, pois eu me colocava estrategicamente próxima a
tina do famoso ponche de maçã da mãe do João.
Ocorre que certa vez esta colega foi convidada para dançar e aí eu indignei TOTAL. Entre uma pessoa
gorda e ela, EU ser descartada foi horrível. Eu
literalmente não era opção. Eu era menina, estudiosa, mas o menino parado no
salão olhou para mim, para ela, e escolheu ela. Pior, ela ainda disse que não
gostava de dançar com menino e que era para me chamar. O menino naturalmente
olhou para mim, para ela, e respondeu; “Com a Letícia não dá, pois não tem como
contornar a cintura dela, meu braço não é grande o suficiente”. E ela falou: “É
só dançar com duas mãos no ombro dela”. E ele: “Mas eu não quero.” E ela,
também, não quis pois, como já havia dito, não dançava com menino.
A música que tocava era
aquela do Roupa Nova “confessar sem medo
de dizer que sente amor mas não sabe muito bem como vai dizer. Te dou meu
coração se viajar comigo...”
Foi bom, afinal o Roupa
Nova, então, me ajudou a emagrecer 25 Kg.
Depois de emagrecer e com
ajuda de outra amiga, tinha companhia para dançar nadando no ar, fazendo
coração, imitando o trem azul. Enfim, tinha companhia para dançar coreografias
inspiradas nas letras das músicas, o que facilitava em muito no baile do Funil em Vespasiano. Quando a “muvuca” se instalava, era só dançar
coreografado, para o clarão se abrir, e a gente ter, sem custo adicional, um
espaço VIP, no Baile.
Neste Show de agora foi
uma catarse, dancei como naquela época. Achei que, como essa outra amiga não
estava, minha coreografia seria isolada. Mas qual não foi minha surpresa!!!
Minha alma gêmea estava lá dançando, tal qual a mim, e sem nem me ver. Um rapaz
de vinte e poucos anos fazendo as mesmas coreografias que eu. E o namorado dele
atualizando o Facebook com fotos dele a todo instante.
De repente, a emoção!!!
Roupa Nova começa a cantar “linda só você me fascina...” Quando meus olhos
começam a marejar olho para o lado e minha alma gêmea já estava aos prantos nas
pontinhas dos pés sendo consolado pelo namorado que também chorando sacou o
celular e tirou uma foto dos dois chorando e mais uma vez, atualizou seu
Facebook.
Então fiquei pensando
porque eu gostava tanto do Roupa Nova, mesmo me trazendo minhas memórias da
fatídica época em que tinha 25 Kg a mais. Parada, olhando com olhar de peixe
morto para o palco, notei o clipe que passava no fundo do palco. Clipes
variados das músicas e mostrando a vida como ela é. As mulheres do clipe sem fotoshop de biquíni de alcinha com pelo
menos 10 kg a mais do que o recomendado pela Associação Médica de Cardiologia,
aparelho nos dentes, cabelos desgrenhados, sem escova, jogados ao vento. E as
que riam e pulavam mais, eram enquadradas numa janelinha, que imitava aquela
janela de navio redonda, e recebiam destaque no clip. Daí vi porque sempre
gostei e, ainda gosto, do Roupa Nova: Se eu tivesse ido num show deles há 20
anos atrás, com certeza eu seria destaque na janelinha do navio.
Gente, foi muito bom, muito bom mesmo. Indico para todas.
Beijocas,
Lê.
PS: O Bruno do “Leiticia” muito tempo depois, quando eu
já estava magra, me encontrou numa festa dançante. Ele já tinha saído do Santa
Marcelina pois iria tomar bomba, e, obviamente, não me reconheceu. Chegou como
que não quer nada, se aproximando cada vez mais de mim e disse: “Oi, tudo bem?
Posso te conhecer?” E eu disse: “Não... você não pode me conhecer, uma vez que
você já me conhece. Eu sou “Leiticia” de
leitão. E a propósito sua mãe foi muito feliz na escolha do seu nome Bruno de
Burro, porque genética burra você já tem: só burro para colocar o nome Bruno
que significa “moreno” num menino loiro.” (Note-se aí um ligeiro desconto de bulling acumulado durante alguns anos).
Assim, faço o mea culpa aqui...
PS2: A mãe do João hoje
tem uma casa de festas para casamentos com Buffet e tudo. O que vocês acham?
Devo cobrar porcentagem nos lucros? Afinal se não fosse eu para tomar todo o
ponche de maçã, talvez ela não ficasse estimulada a virar banqueteira.
PS: Imagens tiradas da web
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