sábado, 14 de janeiro de 2017

SÍSIFO VISITA BELO HORIZONTE A LONG TIME AGO

SÍSIFO VISITA BELO HORIZONTE A LONG TIME AGO



Sísifo Ilustração de Karl Kopinski


Relembrando o caso de uma amiga de infância do “Minoutauro” (toda vez que alguém inconveniente nos abordava, e o assunto rendia, associávamos a um personagem Mitológico, e cada uma contava sua história, remetendo à mitologia grega).
Então, lembro-me de ter encontrado Sísifo alguns anos atrás, numa plena segunda feira, em Belo Horizonte.
Era noite, e eu, e outra amiga de infância, tivemos a ideia giricosa de acompanhar minha irmã e umas amigas até um barzinho perto de minha casa, à época, morava num apartamento próximo ao movimento de baladas.
Corajosamente fomos.
Uma colega da minha irmã estava analisando bem o local em busca de um mancebo para “ficar”.
Minha amiga de infância, para variar, estava completamente avoada, vendo tudo sem ver nada. Ela é muito, muito desligada e quando a gente comenta com ela alguma coisa que vimos, ela sempre fala: “Verdade! Eu nem percebi.”
E eu analisando o local com olhos de lince, atenta a todo e qualquer detalhe. O primeiro deles, e que indicava claramente que o local era alternativo, era o fato do banheiro feminino e masculino ser no mesmo recinto. Havia apenas um banheiro com uma fila única composta de homens e mulheres.
Fiquei indignada! Afinal, homens nunca levantam a tampa do vazo e, no caso em testilha, fazer xixi em pé, era uma questão de sobrevivência. Mas, provavelmente, pelo grau de teor alcoólico no sangue das meninas que frequentavam o barzinho, certamente, as pernas e o bumbum delas já estavam completamente sujos de uma quantidade infindável de xixis masculinos.
 Coleta de DNA em suas coxas e pernas, então, nem pensar. A perícia não teria condições de processar tanto material humano junto. E, é uma pena mas a Polícia Civil aqui no Brasil, não tem estrutura de nenhum CSI.
Bem, continuei analisando o local, de braços cruzados. De repente avisto um rapaz, andando de camisa aberta com o peito musculoso à mostra e pasmem! Todo depilado! Não só isso.
 Não só o peito mas todo o corpo indicavam o uso excessivo de esteroides.
E atrás dele vinha um outro rapazinho, franzino aproveitando a onda e paquerando a mulherada sem contudo obter qualquer êxito.
De repente, o rapaz “bombado” passa e, percebe-se que ele, não só faz uso de esteroides, como de maconha. Estava completamente chapado!
Graças a Deus passamos incólumes pela montanha de esteroides, mas o franzino ficou e resolveu conversar comigo.
_ Oi, bela morena! Tudo bem? (Na época eu era morena mesmo)
Eu de braços cruzados digo: Tudo.
_ Você sabe se o barzinho aqui é liberal?
- Acho que sim. O fato de ter um banheiro só, para homens e mulheres é um indicativo disso, não é mesmo?
_ Ahn... é que sou do interior e me disseram que aqui é liberal. A gente pode usar maconha.  Você acha que pode?
Penso Jesus, Maria, José! Tende misericórdia Deus de infinita bondade! E respondo:
_Meu filho tem “trocentas” pessoas chapadas aqui, inclusive seu colega, e você vem perguntar para uma das poucas pessoas que não estão consumindo maconha se aqui é liberal? Pela nuvem de fumaça fedorenta que está no recinto, é obvio que aqui é zona franca para o exercício do artigo 16 da Lei de Tóxicos! (na época vigorava a antiga lei de tóxicos). Mas acho que você sabe disso, pois senão, não estaria portando cigarretes de maconha no bolso da camisa, não é mesmo?
-Ahn?!?! Dá para ver? Você tem preconceito?
_Eu? Não... Não tendo batida policial aqui, tirando o fedor que está no ar, a cortina de fumaça que se instalou no local, e considerando o fato de eu e minhas amigas logo, logo irmos embora... o que as pessoas fazem da vida, é problema delas, não? Restando claro, que as consequências seguem as ações, e temos que arcar com as duas né?.
_É, eu vi que você é uma pessoa mais fechada.
_É mesmo? Muito me admira você ter conseguido ver alguma coisa nesta neblina que está aqui...
_É... hoje não é meu dia de sorte. Sigo atrás do meu colega e não sobra nada para mim. Todo mundo me dá tirada...
_Não fica chateado. Não está sobrando nem para o seu colega. Aquela camisa aberta mostrando o peito todo depilado está um pouco chocante para as vistas.
_Nossa, está dando para ver que ele depila? (Contextualizando: na época não era moda depilar-se todo, então, já entrego de cara, e bandeja, aqui, que se trata de algumas décadas atrás, e não semanas ou meses)
_Meu filhinho...continue escalando a montanha de esteroides, que é o seu amigo, com sua pedra, como Sísifo, e talvez um dia você consiga chegar ao topo. (Contextualizando: o porquê de Sísifo: o Rapaz, tentava transpor o cara “bombado”, mas era como se ele estivesse carregando centenas e centenas de pedras, que faziam com que ele acabasse, sempre, por voltar a cambalear atrás dele, devido ao uso de muita bebida e fumo. Isso! Bebida e fumo eram as pedras desse Sísifo do interior que, naquele final de semana, há algumas décadas atrás, visitava a Capital Mineira).
_Sífilis? Quem tem Sífilis?
_Ai meu Deus... Agora “Inês é morta”...
_Meu Deus! Ela morreu? Ela era uma amiga sua? De quê que ela morreu? Foi recente?
Quando estava quase para endoidar o cabeção, aparece minha amiga de infância e me salva com apenas uma frase: “Vamos embora Lê? Está dando muita alergia aqui.” (Abro um parênteses aqui para dizer que provavelmente ela, hoje, não lembra de nada. Ela é, como disse, tão avoada que sempre que comentamos algo com ela, a resposta é sempre a mesma: Verdade! Não percebi - Fora o fato dela sempre esquecer tudo).
Viro para o rapaz franzino e digo:
_ É uma pena, tenho que ir embora. Mas continue a jornada com sua pedra. Um dia você chega lá.
_Só mais uma coisa. Eu tenho que colocar a pedra na cabeça do meu amigo?
Minha resposta para o Sísifo do interior: (...)
Assim, enquanto uma amiga segue com seu Minoutauro eu com Sísifo.
Quem diria... em plena BH, há algumas décadas atrás, ressurgia a Grécia através da sua Mitologia. 
PS:Até os dias hoje chamamos de “trabalho de Sísifo”, todo trabalho em que utilizamos esforços longos, repetitivos e vãos, que, certamente fracassarão – além de nunca resultarem a nada que seja útil ou proveitoso.




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