Esse é um texto antigo, de antes
de sair o livro Cinquenta Tons de Cinza
mais Escuros, e como esse volume, já tem estreia marcada nos cinemas para fevereiro, no
Brasil, resolvi postar aqui. É só uma sátira, com licença poética, e sem pretensão.
Mais uma vez, cá estou,
escrevendo mais um capítulo, de minhas desventuras em série. Pela primeira vez
consigo digitar mais rápido do que escrever e tirando o fato do computador aqui
de casa demorar quase três minutos para abrir um documento em branco para que
eu consiga escrever- o que me irritou deveras (penso como Bill Gates e o cara
da APPLE faziam para não perder o tempo que eu perco esperando estas gerigonças
tecnológicas funcionarem) tudo está bem tranquilo.
Estou no terceiro livro
de Cinquenta Tons e pensando que inspiração poderia ter para escrever algo que
se tornasse Best Seller e ficar milionária. Para falar a
verdade bem mais que milionária vez que qualquer apartamento está custando mais
de um milhão (menos o meu obviamente) e sinceramente não pretendo com um Best Seller adquirir apenas um apartamento.
Mas pelo que vi tem que
ser algo picante e de preferência que esquente a periquita das mulheres porque,
elas sim, compram livros eróticos com força. Este último da série, Cinquenta Tons, na livraria Saraiva tinha montes e montes reservados. Então como não
pretendo ser diretora de filme pornô para homens, tento pensar em algo para
escrever.
Ocorre que a escritora
despudorada de Cinquenta Tons já
escreveu de tudo! Agora até iniciação no anal está rolando e eu nem cheguei à
página trezentos! Então a menos que exista mais práticas sexuais heterodoxias e
interessantes o suficiente para atrair mulheres do mundo inteiro acho que o meu
frustrante Apenas Tons não é suficiente para me render um Best Seller.
O que eu poderia ter de
interessante para atrair os olhares do mundo inteiro e me tornar uma escritora
de sucesso?
Penso, penso e penso e
só me lembro de um dia na Penitenciária ter encontrado com uma senhora saindo
do quarto de encontro sexual, com uma trouxa de lençol e travesseiro, deixando para
trás o seu amado preso e ato contínuo ela me pergunta: “Você é a próxima a usar
o quartinho?”
Posso até fazer um
relato imaginário, como uma escritora de livro.
Começaria assim: O cheiro de suor inebriante
cobria o corredor da Penitenciária. O sexo selvagem ocorrido minutos antes
impregnava não só o quarto da Penitenciária como o corredor. Minutos antes
corpos ardentes se entrelaçavam, no colchão jogado ao chão, em que muitos
outros presos já estiveram com suas amadas, e que outros tantos aguardavam ardentemente
na fila, para ocuparem o “quartinho” com seus corpos suados e desejosos de algo
que, agora presos, praticam bem menos (na quantidade talvez similar à que os
maridos de mulheres com recém-nascidos praticam... talvez um pouco mais, pois a
fila do quartinho anda mais rápido do que a cicatrização da cesárea).
O mesmo colchão sendo
usado diversas e diversas vezes... vários casais e apenas um colchão... e ele
lá aguentando firme e forte como Christian Grey. Só ele presenciando as mais
diversas práticas sexuais já exercidas por homicidas, latrocinas,
estelionatários e etc...
A amada chegando...
estendendo sobre ele o lençol de chita bem lavado e limpo. O travesseiro bem
comportado em cima do colchão... um Refri e um pacote de batatas Ruflles ao
lado. Ela de camisola rosa choque e calcinha de rendinha e sutiã de alcinha da
“Marisa”, comprados, cuidadosamente, numa oferta e escolhidos sozinhos, ou
talvez, com a ajuda de uma colega, não com uma personal style, mas nem por isso menos atraente.
Ansiosa ela aguarda seu
amado, há muito tempo encarcerado. Ouve os passos, não só um homem, como de
vários que acompanham o seu amado, conduzindo-o para o mais puro desejo rosa
choque que alguém já poderia ter imaginado. O tilintar das algemas soa como
música para seus ouvidos. A chave dos carcereiros libertando seu amado para o
toque é como brisa para seu corpo todo suado.
O cheiro toma conta do
quarto... sim não é nada agradável, principalmente, depois de ter ficado duas
horas em pé num ônibus vermelho segurando a sacola do amor que, embora leve,
cobra seu preço depois de 40 minutos no ponto aguardando a condução e mais a
viagem ao descampado onde instalaram a Penitenciária.
Ela ruborizada passa a
mão debaixo do braço e antes que possa ficar encabulada com o cheiro pensa:
“Quer saber não interessa o cheiro... principalmente depois do tempo da seca em
que ele se encontra. Ademais o que interessa para todo homem é o que se
encontra entre as pernas de uma mulher, e não o cheiro da dita cuja e das
minhas axilas. Funcionando a perseguida, homem aguenta qualquer coisa.”
Ele adentra o quartinho
do prazer... seus olhos ávidos e buscando ardentemente sua boca! Ela sente o
cheiro do desejo de seu homem e pensa: “Da próxima vez vou trazer um kit de
higiene bucal e um sabonete porque a coisa aqui tá marvada (sic)!” Mas não importa os olhos negros e penetrantes de
seu amado a envolvem de tal maneira que o cheiro é o de menos... Aliás é de
mais, mas como o horário do quartinho é cronometrado ela conseguirá suportar.
O rapaz tira seu uniforme
vermelho e o cheiro piora, mas sua beleza máscula consegue ofuscar o cheiro.
Sua camisola rosa e suas peças intimas de rendinha começam a mostrar para que
servem. Eles se amando e gemendo com a segurança do Presídio ouvindo... Por um
momento ela pensa em ficar encabulada, mas lembra de Anastasia que sofre do
mesmo problema na enorme cobertura de Christian Grey com seus seguranças e
agradece sua patroa por ter deixado o livro perdido na cozinha... abandonado no
cantinho da cadeira... trocado pelo volume mais recente de Cinquenta Tons, que
ela anseia para que a patroa termine logo para poder desfrutar um pouco mais do
bilionário charmoso.
Seu companheiro não é
tão bem delineado fisicamente e o preço de “ficar à toa só comendo e vendo TV
no Presídio”, sem trabalhar, pensando na “morte da bezerra”, começa a cobrar
seu preço, e as gordurinhas já se acumulam, não só na barriga, como nas
laterais de seu corpo, na papada... enfim, em tudo quanto é canto de seu corpo,
que há tempos não sabe o que é trabalhar.
Subitamente ela pensa:
“Na visita de domingo não vou mais trazer o frango assado... não há necessidade
e mais um pouco de gordura... posso chegar a não ver seu sexo e
consequentemente não conseguir desfrutar de sua possante máquina sexual.”
Logo, o sexo que mal começou
termina, e ele busca ardentemente por algo mais... será que deseja um pouco
mais de mim? Será que finalmente vai praticar algo mais lento? Sim seus olhos
passam por cima de seu corpo ainda vestido com a camisola rosa choque e
encontram o verdadeiro prazer. Sorridente ele exclama: “Que bom querida desta
vez não é Pepsi, mas Coca-Cola! Nossa e tem batatinha! Querida você pensa em
tudo... não sei o que faria sem você! Não esquece do frango no domingo e desta
vez traga farofa de bacon e não de ovos. Este mês teve décimo terceiro, não é?”
Nesta hora ela pensa:
porque atravessou a cidade com uma sacola cheia de coisas? Porque ficou
esperando tanto tempo no ponto e duas horas dentro do ônibus? Mas pensa,
principalmente, porque teve a ideia frouxa de levar Coca-Cola e batata. Isso
desviou a atenção de seu amado! Ao contrário de Christian Grey que não se
dispersa nem com o Champanhe e aspargos, seu amado se distrai com uma Coca-
Cola! Talvez da próxima vez traga refrigerante “Pichulinha” para irritá-lo, e
quem sabe, ser punida como Anastasia, para ofegante desmaiar de prazer.
Aí ela lembra que na
biblioteca da Penitenciária não tem o livro Cinquenta Tons. E mais, ainda que
tivesse, o lugar menos frequentado pelos presos é a biblioteca, e ao menos, até
o livro virar filme e passar na Globo, talvez não seja uma boa ideia irritá-lo.
O tiro pode literalmente sair pela culatra.
Enquanto ele se deleita
com a Coca e a batatinha, ela fica feliz em saber que o segundo livro da
trilogia logo, logo estará perdido pela casa de sua patroa e ela poderá
novamente encontrar-se com Christian. Seu corpo quase consegue sentir o cheiro
do Bilionário, mas o odor de seu amado é tão forte que ela prefere nem
respirar.
Uma mão bruta bate à
porta. Seu devaneio é interrompido pela frase: “E aí gente o tempo terminou!”
Finalmente a porta do quartinho é aberta e o cheiro se dissipa pelo corredor e,
com mais narinas para ser aspirado, ele vai rapidamente sumindo, não sem antes
cobrar seu preço da guarda que escoltará seu amado para seu pavilhão.
Sua dose de realidade
vai chegando ao fim, mas não sem antes escutar: “Não esquece não meu amor,
farofa de bacon tá?”
Sim, pelo menos
Christian a entende! E que saber? Farofa de ovos uma pinóia!!! Já é natal e vou comprar uma boa garrafa de Cidra Cereser para estourar no final de ano e tomar num
copo lagoinha, lendo “Cinquenta tons de Cinza Mais Escuros”. Afinal até o final
do ano sua patroa já terá lido o livro e ela poderá passar a virada do ano
muito bem acompanhada.
E aí, gente? Será que
meu livro de desventuras rende algo?
Em breve, posto meu comentário do Cinema: Na crista da onda: Cinquenta Tons de Cinza.
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