domingo, 29 de janeiro de 2017

TENTANDO UM BEST SELLER PARTE 2: CINQUENTA TONS DE MARROM

CINQUENTA TONS DE MARROM 


Esse, também é um texto da época em que Cinquenta Tons era febre nas livrarias, e escrevi para as minhas amigas. Sempre compartilho meus textos com elas.
Prezadas amigas,
Recentemente ocorreu um fato atípico em minha vida. Depois de tantos casos sobre homicídio, Júri de mil e não sei quantas páginas de uma chacina, achei que já tinha passado por tudo.
Pois bem, o futuro me reservava algo mais.
Semana passada tive uma audiência... Tudo corria na mais perfeita normalidade.
O réu compareceu esclareceu sucintamente suas dúvidas e apresentou suas testemunhas. Duas delas comuns para o caso e uma Contadora que poderia esclarecer algo sobre a condição deficitária da empresa (tratava-se de crime do art. 168-A).
Comecei a questionar referida contadora e ela muito solícita esclarecia os fatos. Falou, falou, falou e como típico de toda testemunha da Defensoria, se perdia em divagações e não chegava ao ponto, de forma que tinha que cortá-la para ela retomar o famoso “fio da meada”.
Pronto, era uma testemunha que servia para algo. Disse para ela que então pediria para ela ser ouvida. Sentada na sala de espera, sem ter para onde ir e tendo em consideração que a audiência, ainda iria demorar a acontecer, fiquei quieta com cara de paisagem evitando conversas sem sentido e desnecessárias que me tomam um tempo danado de conversa inútil. Confesso que ando meio sem paciência para discutir o “sexo dos anjos”.
De nada me adiantou a cara de paisagem e os braços cruzados que indicam que a pessoa não está querendo contato. De certo ninguém leu a reportagem sobre, o que os sinais corporais dizem a respeito de uma pessoa...
Não recrimino, os homens que estão à procura de moçoilas para ficarem, também ignoram tal leitura corporal. Bom, fui abordada por uma pessoa que começou; “Sabe Dra. eu não entendo... esta questão de Justiça... Porque um homem responde a processo e outros não... é muito injusto... a gente vê isso. A gente vê demais isso... Será falta de conhecimento da Justiça? Juiz não vê isso? O que vai acontecer com o mundo? A senhora pode me dizer? E esta questão de Justiça? Como pode ser?” E me atropelou com mais uma série de análises sobre Justiça, Injustiça e não me deixava falar nada.
Enquanto ela falava pensei: “Que resposta posso dar? Porque uma pessoa responde por crime? Porque cometeu uma conduta descrita na Lei Penal? Porque há denúncia e esperam comprovar tudo na fase Judicial? Injustiça... Realmente o mundo é injusto. Eu por exemplo poderia estar lendo o livro “Cinquenta tons de cinza” que está no meu carro e saberia se a boba da Anastasia vai conseguir se livrar do tarado pervertido do Cristian Grey e, no entanto, cá estou, sendo questionada sobre um tanto de coisa que sinceramente não tenho resposta. Poderia estar com meu I-Pad no blog da Thássia Naves vendo as últimas tendências da moda, as maravilhosas festas... mas infelizmente o mundo é realmente injusto e, para mim um pouco mais, pois há um complô cibernético contra a minha pessoa que me impede de usufruir a tecnologia já existente. Minha evolução, como já comentei com vocês, anteriormente, parou na máquina elétrica de datilografar.
E a testemunha da acusação não chegava... e a audiência não começava... e as perguntas da moça desconhecida não paravam... e como percebi que ela não queria respostas, mas sim, queria, apenas, desabafar continuei ouvindo e dizendo “é, é difícil...”
Pregão das partes! Oba! A audiência vai começar!
A testemunha de acusação não compareceu e o MPF ia desistir. Contudo, como não havia outra testemunha e tudo levava a crer que o meu assistido tratava-se de “laranja”, a acusação resolveu insistir na oitiva do dito cujo. A Juíza se dirige a mim e pergunta: “Podemos ouvir as suas testemunhas?” Respondo que não dá, pois trata-se da contadora da empresa, e eu não queria adiantar seu depoimento para a dita testemunha ausente de acusação (que sinceramente no meu entender deveria estar constando no polo passivo, como acusado, e não como testemunha, ainda mais de acusação!).
Enquanto digitava-se a ata de audiência a “testemunha” chegou. Pediu desculpas para a Magistrada e solicitou que, se não fosse muito inconveniente, ele gostaria de ser ouvido um outro dia, pois não poderia sentar. E que este fora, exatamente, o motivo do atraso.
Nesta hora um cheiro muito forte tomou conta da sala e a Juíza como estava com sinusite não tomou conta da situação calamitosa e perguntou: “Mas o senhor teria condições de dar seu depoimento em ?”. (Acho que ela pode ter pensado que se tratava de uma cirurgia, por exemplo, de Hemorroida, ou coisa parecida).
Nesta hora eu já estava praticamente desfalecida e desesperadamente tentava conter minha ânsia de vômito para não constranger o Senhor que iria depor. Contudo, a pergunta da Juíza me deixou em pânico, pois não sabia mais despistar a ânsia de vômito.
Bati o braço na bolsa, que caiu no chão e abaixei para pegá-la. Fiquei em baixo da mesa e fazia ânsia baixinho. Nesta hora o Procurador presente se escondeu atrás do monitor em sua frente e tentava conter um riso. E eu pensado nas palavras da senhora, na sala de espera, que me abordara minutos antes: “Injustiça... Esta é a palavra... nem monitor eu tenho para me esconder atrás...” e permanecia embaixo da mesa.
O livro “Cinquenta tons de Cinza” em meu carro e eu vivenciando literalmente “Cinquenta tons de marrom”, concluindo que o do Sr. Grey,   e seus acessórios torturantes, eram, realmente, muito menos humilhantes que o tom de marrom que eu e o Senhor estavamos vivenciando.
Para distrair meu físico comecei a pensar no enredo de “Cinquenta tons de marrom”:
- Capítulo um: Mecônio...onde tudo começou.
-Capítulo quinze: Impossibilidade de vivenciar o marrom aos finais de semana: a saga das mães que não conseguem babás e por conseguinte, não conseguem fazer coco. (Lembrei do e-mail, de uma amiga para o grupo, em que ela relatava sobre a impossibilidade de fazer o “número dois”, por conta de demanda de filhos).
-Capítulo trinta: Incontinência intestinal por ingestão de alimentos inadequados e seus efeitos na vida alheia.
Nesta hora refleti mais um pouco sobre a famosa injustiça. Anastasia com o homem esquisito, mas rico e bonito...  Sobre a sorte da escritora que a essa altura já deveria estar milionária... e o fato de que eu, provavelmente, iria “morrer” asfixiada, e não poderia, assim, dar sequência à trilogia de “Cinquenta tons de marrom Mais Escuros” e “Cinquenta Tons de Liberdade: a descoberta de remédios reguladores de intestino e os benefícios da farmacologia”.
Mas, principalmente, o que mais me chateava era não saber o final do livro e o que a esquisitice do Sr. Grey preparava para a chata da Anastasia. E porque haveria de ter um segundo e um terceiro livro sobre um assunto SM (o significado da sigla só entendi quando li a crítica sobre o livro).
Pensava que, se Christian Grey se chamasse Agenor, fosse bombeiro, oferecesse vinho Chapinha e desse um vale transporte para Anastasia  encontrá-lo num motel de quinta categoria na Rua Guaicurus, e depois pedisse para ela pagar a conta, talvez ela não se submetesse a tanta coisa. Talvez a dúvida dela sobre aceitar a submissão, nem existisse. Talvez não, com certeza não existiria.
Volto à realidade e uma luz no fim do túnel começa a tomar força. A testemunha extremamente sensata explica, muito educadamente: “Doutora eu não sou homem de meias palavras, minha situação neste momento não me permite isso. O motivo de eu não poder testemunhar agora, é o mesmo que me impediu de chegar aqui na hora certa. Estava no táxi quando tive uma indisposição intestinal. Sujei o carro do taxista e o Hall da Justiça. Gostaria, realmente, de poder tomar um banho e outro dia depor... Mas se a Dra. quiser posso sim, testemunhar em pé.
Sim, sim, sim. Marque a audiência para outro dia, Dra. Juíza. Afinal eu não tenho sinusite. Minha cara devia estar muito engraçada pois, nesta altura, as risadas do Procurador começavam a entregá-lo.
Assim, a Dra. constrangida marca outro dia pra a audiência. Todos assinam o termo e, ao final, quando todos já tinham ido embora, a Dra. me pergunta: “Menina, você sentiu cheiro de alguma coisa? Eu com sinusite não percebi nada... Bem que o médico me fala para eu operar. Que meu nariz tá todo bichado”.
Respondo sem pestanejar: “Realmente a cirurgia não seria de todo ruim. Já operei e é muito bom poder sentir os cheiros, respirar pelas duas narinas... Claro que não sentir este cheiro de agora. Este, especificamente, acredito que ninguém quer sentir. Mas quantas vezes passamos por algo assim? Tenho 37 anos e esta é a primeira vez. Acho que, definitivamente, a cirurgia é uma boa coisa. Vale a pena. Acho, também, que se tivesse um “bom ar” agora seria uma coisa melhor ainda.”
Nesta hora o Procurador começa a rir e com sotaque, bem carregado, fala: “Dra. a Senhora é engraçada por demais!”. Sim!!! Ele tinha um monitor para protegê-lo, e a mim só restou o chão, em baixo da mesa de audiência. Aí, claro, fica engraçado, para quem está “por cima da carne seca”. 
Bem, enfim este é meu desabafo...

Então confiro, mais uma vez as destinatários. Vejo o quanto a mensagem ficou grande e aperto o enviar. 


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